A obra de George Orwell é reconhecidamente uma referência incontornável na filosofia politica do século XX. A sua particular atenção aos problemas sociais e políticos tornavam-no num espectador privilegiado para apontar os perigos de regimes totalitários como os que existiram ao longo do século passado. As suas duas grandes obras são: 1984 e O triunfo dos porcos (na nova tradução nacional: A Quinta dos animais).
Mas se a sua obra é uma sátira perfeita aos regimes totalitários que existiram ao longo do século passado, podemos também rever-nos nas actuais democracias ocidentais. Poderíamos fazer uma lista pormenorizada de situações em que o Grande Irmão de 1984 entraria nas nossas vidas. No entanto, a gravidade não passa apenas pela imposição de certas realidades mas sobretudo pela passividade social com que as populações aceitam determinadas manipulações.
Deve lembrar-se de um programa famoso do início dos anos 2000 chamado Big Brother, que passou na TVI. Um programa que filmava a vida de um conjunto de pessoas durante 24h por dia. A privacidade era exposta e tudo era colocado ao arbítrio de uma entidade desconhecida. Os que viviam dentro da casa não sabiam o que passava para fora da casa. Os que viam o programa ficavam limitados às imagens seleccionadas. O que se pode concluir? Este é um exemplo concreto do que Orwell transmitia no seu 1984. A limitação do que vemos e do que nos é mostrado restringe a nossa percepção e a construção de uma opinião fundamentada e parcial.
Queria hoje reflectir sobre um pormenor. Na sociedade apresentada em 1984 aparece um Ministério muito particular: o Ministério da Informação. Neste ministério é analisada toda a informação saída nos meios de comunicação social e reconstruída sempre que é necessário. Era necessário que este ministério reconstruísse a informação de acordo com os interesses políticos do momento. Dizia-se: “a verdade é o momento; se a verdade vai contra o interesse do momento torna-se numa mentira”.
E surgem estas mudanças sem que a sociedade civil compreendesse o que se passava. O pior era a total passividade e alienação desses assuntos da sociedade civil. Ela própria perdeu a capacidade de pensar e raciocinar porque perdeu as suas principais referências.
Será possível encontrar algumas parecenças com a actual situação nacional? De maneira nenhuma. O Sr. Primeiro-ministro face ao desespero de uma imagem denegrida por sucessivos escândalos e por uma relação deteriorada com a TVI, resolve influenciar a compra da referida televisão pela PT.
Outro exemplo passado em Odivelas. Será possível que a imprensa local só noticie acontecimentos realizados pelo actual poder camarário? Não será coincidência ser um poder local socialista e ter sido este que sempre esteve à frente da Câmara Municipal de Odivelas?
São apenas algumas reflexões para nos por a pensar e para reflectirmos se queremos manter uma governação autárquica e legislativa que não sabe viver com a diferença nem com a crítica.
Hélder Silva
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