Sem eira nem beira – Se diz da pessoa sem muitas posses, e/ou oriunda de família de classe baixa.
Estreou recentemente, “Sem eira nem beira”, o último tema dos Xutos e Pontapés. Fiquei estarrecido, não pelos melhores motivos, mas pela ambiguidade de sentimentos. Por um lado, satisfeito por ver que subsistem grandes bandas nacionais com cariz de intervenção social, dando voz às verdadeiras questões que todos desejamos ver respondidas. Quando foi que escutámos a última verdadeira música apelando à mudança nos alicerces e fundações da identidade portuguesa de forma tão directa e frontal?
Trata-se de um grito de revolta, de insatisfação e inconformismo, de alguém que sente uma força, uma vontade em querer mudar o rumo dos acontecimentos pelos meios de que dispõe, efectivando o dever cívico tão esquecido por muitos. Muitos puristas poderão advogar que existirão faixas com maior profundidade, lamentando que aquela que maior impacto tenha seja a da mensagem com linguagem popularucha, fácil, sem recurso a analogias ou metáforas. Mas eu pergunto-me: será possível continuar a manter o conformismo franciscano perante situações tão gritantes como aquelas que vivemos? Pelo amor de Deus, o que mais falta vir a lume para que de uma vez por todas o povo português se mentalize da qualidade daqueles que ocupam os cargos de responsabilidade acrescida deste Governo?! Digam-me! Começam-me a faltar ideias para as ainda possíveis patéticas e vergonhosas situações passíveis de ocorrer! E acreditem que tenho uma imaginação mesmo muito fértil…
Por outro lado, assola-me um sentimento de estupefacção. Em tempos, Salgueiro Maia terá dito: “Há diversas modalidades de Estado – os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou!”. Pois é, volvidos 35 anos, não conseguiria arranjar melhor expressão…
Os Xutos sempre transpiraram saúde ao longo dos invejáveis 30 anos. Mas será possível que os únicos que teriam todos os motivos e mais alguns para se mostrarem resignados com o rumo dos acontecimentos, começando a pensar já nos anos dourados da reforma, postulando que está na altura de outros “pegarem na pasta” da agitação de massas, sejam os primeiros a mostrar inconformismo? Fazem-me lembrar aquelas simpáticas personagens de algumas produções cinematográficas como Oogway, o mestre tartaruga do Kung Fu Panda, onde apesar da sua milenar idade, dá a carapaça ao manifesto contra as garras do jovem tirano Tai Lung, o tigre malfeitor. Ou mais recentemente Clint Eastwood, na personagem de Walt Kowalski, no filme Gran Torino…
Alguma coisa vai mal quando a quem é reconhecido o espírito vanguardista na contestação ao totalitarismo ou chefia despótica como é o meio musical, promove um silêncio ensurdecedor na matéria. É incrível ver como o sangue novo parece só correr nas latejantes veias trintonas dos nossos Xutos. Ou talvez a questão seja ainda mais grave e profunda. Poderá o modus operandis do PS, recentemente evocado nas declarações com que Nuno Melo confrontou Alberto Costa, onde caso o PS perdesse a maioria absoluta iria haver “represálias” sobre os magistrados que investigam o caso Freeport (Fripór para alguns), ser uma das possíveis explicações para esta afonia? É que se fazem isto a magistrados, imagino o que não farão a trabalhadores liberais com um sustento não tão certo como em alguns jobs for the boys. Já imaginaram a vossa banda ser riscada de agendas culturais que as Bárbaras desse país elaboram para as rádios do Estado, num tacho orientado? É que é capaz de fazer moça no final do mês… Sim, as barbies subsistem nas RDP’s por aí fora…
“Sem eira nem beira” começa a ser adoptada como hino de todos aqueles que não guardam boas lembranças do estilo governativo do senhor José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa. Agora só depende de nós, o decorar do refrão para cantarmos em uníssono à boca cheia! Quem canta, seus males espanta! E pode ser que desta seja de vez…
http://www.youtube.com/watch?v=yG4BUZ9zcBg
Diogo S.